quarta-feira, dezembro 22, 2004

Sonhar

Sonhar devia ser crime! Apenas alimenta o desejo, a ganância, potencia os objectivos, leva-os aonde só a imaginação permite, aumenta ânsia, a frustração, a insatisfação da condição actual.
Tudo o que tenho não me chega, desejo não aquilo que não possuo, mas quem não posso tocar, sonho com almas que não conheço, gente sem rosto que anseio conhecer.
Sonho com uma vida que dificilmente terei, num mundo ideal que não há-de existir.
No sonho todos existem outra vez, não existe a ausência, quem amo está à minha beira, não chegou a partir.
Sonho sempre acordado, a noite é para descansar e no entanto estou alerta, é na penumbra que surgem os nossos monstros, é na noite que saem para nos apanhar desprevenidos, a mim não me vão agarrar, no meu sonho eu sou omnipotente. Quando acordo de nada me recordo, já não sei qual é o mundo (sur)real, de que monstros devo fugir.

Ignorância = felicidade

Já o impunha o tio Salazar, certamente não da forma mais correcta (pois a imposição nunca é agradável) mas certamente com boa intenção, num ponto de vista global, de país.
A ignorância de factos influentes é-nos, regra geral, positivo visto que o que é bom não se esconde e o que é potencialmente desagradável aquando camuflado não nos magoa.
Ser ignorante do prisma puramente cultural também pode ter as suas vantagens. Quem não mais sabe do que simplesmente o que tem não deseja, não estará frustrado.
O ser ignorante do ponto de vista pessoal também terá o seu “quê” de interessante, por exemplo, o passado de um amigo ou conjugue: essa pessoa poderá ter feito coisas menos interessantes, algo que não pode ser mudado, mas que pode condicionar o futuro. O passado não interessa, os feitos são para glorificar, os erros para ocultar, o entretanto não entra na historia.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Boas festas…

Facto: Faltam menos de 8 dias para o Natal.
Reacção: Indiferente.

Faço retrospectiva frequentemente.
Encontro-me só largos períodos o que propicia esses momentos fantásticos que é estar apenas com o meu “eu”, poder falar-lhe, critica-lo, acarinha-lo, dar-lhe moral e força. Deve ser por isso porque quando tomo posição, esta muito dificilmente sofre mutação. Aconteceu isso com o Natal.
Já largos anos sinto plena indiferença à época, talvez por materialmente estar plenamente (ou quase) satisfeito, ou pelo facto de me ter acomodado ao facto de que o que desejo não poderá nunca ser comprado.
A religião não me cativa, as luzes, musicas, o consumismo também não. Bolos e doces de época nada me dizem, Natal é meramente sinónimo de feriado, férias.
"Demasiado pouco" significado para tamanho alarido.

sábado, dezembro 11, 2004

Valores

Justiça, liberdade, amor. Tal como o vento, não se vêem, sentem-se.

Justiça foi e é feita por homens, à medida dos homens, mas não foi nem sempre é aplicada aos mesmos.
Justo é suposto ser sinónimo de equilibrado, mas justiça não é sinónimo de imparcialidade, justiça existe para proteger quem dela se souber aproveitar.

É injusto, violam portanto a minha liberdade.

Serei livre se usufruir dessa liberdade sem atingir a dos demais. Não. Sou livre apenas dentro das amarras que alguém um dia se lembrou de impor. Eu não as escolhi, não me lembro ter alguma vez sido ouvido para votar uma lei, submeto-me. Eu não sou livre.

Mesmo servo de regras, serei livre de amar?

“Os amigos escolhem-se, a família não.”
Imponho a correcção: Aqueles que amar serão a minha família, todos os outros serão meros apêndices.
Não existe justiça no sentimento.
Eu admito quem entra na minha família. Quem amo é no entanto livre de a abandonar.

sábado, dezembro 04, 2004

Poder, ser, estar…

Sou água:
Quem me foca de frente vê de forma límpida aquilo que sou. Quem me olha de lado ver-me-á distorcido, suas criticas serão do seu próprio reflexo.

Sou fogo:

Aqueço aqueles que me rodeiam e condeno ao inferno gelado quem me rejeitar. Ilumino o caminho, sou eixo fixo, a certeza, segurança.

Sou terra:
Arremessarás as minhas palavras para te proteger. Sou chão e serei abrigo de todos os que em mim acreditarem.

Sou ar:

Vento dominante, furacão destruidor sobre quem me trair. Ciclone impiedoso naqueles que rejeitam os princípios, valores.

Sou a cor que alegra os teus dias, a escuridão que abafa a tua vida.
Sou a esperança, a virtude, a crença.
Sou piedade, humildade, o querer.
Ser-te-ei fiel se não me negares.
Sou vida, sou morte, sou verdade.
Sou poder, sou o ser, estou … em ti.

Porque existimos?

Parece-me importante antes de mais salientar que me tenho tornado cada vez mais ateu. Dia após dia a minha religiosidade cai, desfaz-se mais um pouco.

Desconheço o “porquê” ou o “como” da situação. Não creio em doutrinas nem líderes espirituais. É o indivíduo quem constrói o seu próprio destino.
Posto isto, e tendo em conta que a busca da compreensão da génese não me é aliciante, acredito que enquanto seres unos devemos satisfazer a nossas carências de prazer, diferenciadamente pois o que me satisfaz poder-te-á ser indiferente. Penso que temos que ter vícios pois a vida é efémera quer se seja imaculado ou não. Qual o interesse de viver castrando o que nos dá gozo, porquê fazer da vida um percurso ainda mais penoso?

O que é um vicio? Será algo que nos dá prazer (ou retira desprazer), seja saudável ou não.
Tabaco é víciante, álcool, chocolate, mas o jogging também o é. Está provado que a actividade física ou químicos impõem ao organismo uma descarga de endorfinas que promovem o bem-estar, o prazer.
Existem viciados em químicos, no jogo, em ginásio, a correr. Cada um terá o seu(s) próprio(s) vicio(s), satisfaçam-nos pois é certo que não existimos para sofrer. Falo por mim.


T.P.C.:
Ler na “Maxmen Dez.2004” na pág. 44:

João Pereira Coutinho: “É na grandeza dos vícios que mora a grandeza dos homens”.